Sinopse: É meia-noite do dia 30 de Junho de 1860 e tudo está calmo na elegante casa da família Kent, em Road, Wiltshire. Contudo, na manhã seguinte, acordam e descobrem que o filho mais novo foi vítima de um crime extraordinariamente macabro. Pior ainda, o culpado é, de certeza, um dos seus - a casa estava trancada por dentro.
Jack Whicher, o detective mais célebre da sua época, chega a Road para descobrir o assassino. Entretanto, o crime está já a provocar a histeria nacional perante a ideia dos podres que poderão existir por detrás das portas fechadas dos respeitáveis lares de classe média: serviçais intriguistas, filhos rebeldes, insanidade, ciúme, solidão e ódio.
Uma história verídica que abalou a sociedade da época e cujos ecos se fazem ouvir ainda hoje, na sociedade, na literatura e na investigação criminal.
Entrevista com a autora:
Excertos:
"(...) do detective francês Eugène Vidocq. (...) O francês - um mestre do crime que se tornara chefe da polícia - era o herói-detective com o qual os seus homólogos ingleses eram comparados."
Excerto retirado da página 137
"Nada é mais difícil de definir do que a linha de demarcação entre a sanidade e insanidade [...] Façam a definição demasiado restrita, e ela deixa de fazer sentido; façam-na demasiado ampla, e toda a raça humana fica presa na rede de arrasto.
Em rigor, somos todos loucos quando cedemos à paixão, ao preconceito, ao vício, à vaidade; mas se todas as pessoas apaixonadas, preconceituosas e vaidosas fossem enclausuradas como loucas, quem ficaria a guardar a chave do manicómio?"
Excerto retirado da página 146
A minha opinião:
Ao contrário do que pensava ao começar esta leitura, este livro não é policial ficcionado, mas é antes um documento histórico baseado numa elaborada pesquisa por parte da autora.
O livro é uma autêntica aula dos primórdios da ciência forense e sobre os primeiros detectives incorporados na polícia.
O caso aconteceu em Junho de 1860 e chocou a Inglaterra victoriana ao ponto da incredulidade sobre a verdade do que aconteceu dividir o país em dois. Um crime tão horrendo e repulsivo a acontecer no seio de uma família numerosa e aparentemente feliz e idílica e cujo assassino era um membro dessa família. Tal facto era impensável para a mentalidade da sociedade da altura. Tanto que conseguiu destruir a carreira do melhor detective da altura, Jonathan Whicher, um dos primeiros oito detectives da Scotland Yard. Um homem brilhante que inspirou pessoas como Edgar Allan Poe, Dickens, Arthur Conan Doyle, Darwin e mesmo Freud. Imaginem... Se Whicher não tivesse aparecido, uma boa parte da obra literária de Poe não tinha surgido e o famoso Sherlock Holmes não existiria. Sem dúvida teríamos um mundo muito mais pobre.
O livro está repleto de outras referências tanto a obras literárias ("Bleak House", "The Woman in white", "The Moonstone", ...) como a pessoas muito conhecidas e personagens. Por várias vezes fiquei espantada com a influência que este caso teve no mundo que conhecemos hoje e com algumas das aprendizagens que fiz com este livro. Por exemplo, quem não se lembra do filme "Vidocq" (2001) interpretado pelo grande Gérard Depardieu? Pois esta estranha personagem existiu mesmo! (Ler excertos)
Este livro será para mim, e acredito para qualquer amante do policial, desde Agatha Christie, a Doyle a Chandler, uma referência e um livro que sem dúvida relerei. Não só pelo misterioso e horrível crime, mas também por causa dos pomenores criados pelo(a) o(a) assassino(a), e pelo deslindar magnífico de Whicher.
Uma leitura que começou por ser o que não esperava, mas que que me espantou, ensinou e enriqueceu acima das expectativas.
Excelente tradução por parte de Fernanda Oliveira e revisão por parte de Rita Pina. De dar os parabéns a Vera Braga pelo excelente design da capa (manteve-se muito próxima da versão original o que no meu entender o livro só beneficiou com isso).
7/10
Lido a 10 de Outubro de 2009