Talvez as gerações que não cresceram com os livros do Harry Potter, que não tiveram por isso a possibilidade de vivência e crescimento em part-time num mundo mágico, poderão não assimilar na totalidade a grandiosidade deste "pequeno" livro de 300 páginas.
Se o livro é totalmente perfeito?
Não o é.
Há momentos de confusão, de incompreensão e até mesmo um pouco de loucura do leitor.
Mas o livro, na sua totalidade, é excelente.
Se um livro, nas suas primeiras páginas começa com o seguinte parágrafo, apenas deve anunciar um restante maravilhoso, e tal foi o que aconteceu:
"Contudo, as histórias eram diferentes: elas ganhavam vida ao serem contadas. Sem uma voz humana para as ler ou um par de olhos arregalados a seguir as letras à luz de uma lanterna por baixo dos cobertores, as histórias não tinham experiência real no nosso mundo.
Eram como sementes no bico de um pássaro, à espera de caírem à terra, ou como notas de uma canção pousadas numa pauta, ansiando ardentemente que um instrumento desse vida à sua música."
Pensando melhor, este prenúncio de grandeza começou antes. Ao ler a dedicatória.
Uma dedicatória das mais belas que alguma vez li.
David, pequeno e corajoso David, que tanto sofreu e tanto sofrerá à conta dos seus próprios maus sentimentos.
Mas do desespero e da busca se fará homem, enquanto os que o rodeiam serão mortos, e outros sobre ele farão planos para o desviar do seu destino e da sua busca de um rei e de um reino esquecido.
Cada capítulo deste livro é uma aventura tortuosa, um tormento viciante para o leitor.
Sempre que David se livrava de uma, eu até temia quando tinha de iniciar outro capítulo.
Mas era impossível parar.
Impensável pousar o livro.
Pois temia pelo destino de David.
O que haveria afinal no fim da sua viagem, à espera?
A morte?
Um fim ainda pior?
E no fim...
No fim tive pena de o acabar.
Tive pena de o pousar.
Esfolheei-o novamente a recordar o turbilhão de emoções vividas.
A tristeza que senti com o lenhador e com Roland, a dor de muitas outras personagens vítimas da perversidade de terceiros, o quanto eu estava incrédula do que lia quando cheguei ao capítulo dos anões e das gargalhadas que dei...
Um livro como este não deve ficar esquecido.
Nem em estantes.
Nem em livrarias.
Nem em bibliotecas.
Nem nos nossos corações.
5/5