Os pais de Céline, uma jovem francesa, nunca lhe esconderam que fora adoptada, que viera do Peru com apenas 16 dias, porque a sua mãe biológica, demasiado pobre para a poder criar, a teria abandonado. Sem dúvida que Céline amava estes pais que a tinham criado com todo o amor, mas quando se tornou adulta não resistiu a tentar desvendar o mistério da sua origem. Desenvolveu iniciativas no sentido de tentar localizar a sua família peruana. Mas quando lhe revelam que na realidade fora roubada com três dias de vida, Céline quase entra em choque. Este livro é tanto o relato tocante de um reencontro, quanto o testemunho de uma realidade cruel sobre o tráfico de crianças.
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A vida de Céline Giraud, 27 anos, desabou a 22 de Fevereiro de 2004, o dia em que tomou conhecimento de que não tinha sido abandonada em criança mas roubada à sua mãe biológica com alguns dias de vida. Roubada para ser vendida por 3000 dólares a um casal francês que desconhecia o processo de tráfico de que Céline tinha sido alvo. Só quando tentou contactar a mãe biológica conseguiu descobrir a verdade, procurando a partir deste momento, com a ajuda dos pais de Fernando, o seu namorado, pistas para o seu rapto, conseguindo localizar mais de vinte crianças também de origem peruana que tinham sido raptadas. Os seus pais adoptivos, alheios à ilegalidade, tinham contactado uma organização francesa que lhes tinha conseguido uma menina com apenas duas semanas em tempo recorde. Quando se apercebeu da situação dos outros bebés, Céline tentou contactar as suas famílias criando a Associação La Voix des Adoptés, que procura dar apoio a crianças adoptadas.
Um livro de memórias, escrito na primeira pessoa com um tom quase detectivesco, informativo e que pode servir de base a uma análise social.
A minha opinião:
É impressionante o que Céline, a autora, viveu em tão pouco tempo.
É surpreendente o que alguns seres humanos conseguem ultrapassar e sobreviver em termos sociais, psicológicos e afectivos.
Como é que alguém que tenha passado pelo que Céline passou, consiga viver normalmente? Não entendo. Não entendo porque não passei por nada do que ela passou e a minha cabeça e o meu coração não me permitem visualizar-me em tal situação.
É um relato interessante que me fez perceber que nem tudo corre bem noutros países como a França. Por exemplo, é costume os portugueses queixarem-se da lentidão e ineficácia do sistema judicial português, mas o que dirá qualquer pessoa depois de ler este livro? O que diria sobre aquele caso, descrito no livro, de um jovem casal que ficou traumatizado, sem os seus filhos adoptivos e à espera à 3 anos do sistema judicial francês se decidir se leva o caso a tribunal ou não. O que diríamos todos nós aos dois filhos adoptivos que não chegaram a ser legalmente adoptados e que se encontram destruídos a todos os níveis como pessoas e como seres humanos?
Por fim restou-me uma séria admiração pela protagonista e autora do livro, por tudo o que ela viveu e, lutando, sobreviveu.
Lido a 21 de Junho de 2008