Outubro, 1975. Quando o avião levantou voo deixando para trás a baía de Luanda, Carlos Jorge tentou a todo o custo controlar a emoção. Em Angola deixava um pedaço de terra e de vida. Acompanhado pela mulher e filhos, partia rumo ao desconhecido. A uma pátria que não era a sua. Joana não ficou indiferente ao drama dos passageiros que sobrelotavam o voo 233. O mais difícil da sua carreira como hospedeira. No meio de tanta tristeza, Joana não conseguia esquecer o olhar firme e decidido de Carlos Jorge. Não percebia porquê, mas aquele homem perturbava-a profundamente. Despertava-a para a dura realidade da descolonização portuguesa e para um novo sentimento que só viria a ser desvendado vinte anos mais tarde. Foram milhares os portugueses que entre 1974 e 1975 fizeram a maior ponte área de que há memória em Portugal. Em Angola, a luta pelo poder dos movimentos independentistas espalhou o terror e a morte por um país outrora considerado a jóia do império português. Naquela espiral de violência, não havia outra solução senão abandonar tudo: emprego, casa, terras, fábricas e amigos de uma vida.
A minha opinião:
Demorei a pegar neste livro, mas quando comecei a ler não consegui parar.
Este autor surpreendeu-me pela simplicidade e limpidez da escrita. Nestas páginas não há excessos e ao contrário de um determinado jornalista que escreve livros, não existem páginas inteiras para "encher chouriços".
Retornado é a designação para os portugueses brancos vindos das ex-colónias que se instalaram em Portugal após a independência dos territórios em África, Informação retirada da Wikipédia. Para saber mais cliquem aqui, e é sobre este acontecimento que estas páginas nos dão a conhecer.
Quanto ao enredo, trata-se de uma história de amor com MUITAS coincidências. A personagem principal, Joana trabalha na TAP quando é destacada para uma viagem de urgência para resgatar portugueses de Angola. Joana não sabe o que a espera, mas a descrição da confusão do aeroporto deixou Joana e eu própria abismada com o caótico da situação. Pessoas que saíam de casa com uma mala de mão e se dirigiam ao aeroporto deixando todas as suas posses, todos os seus amigos, toda uma vida para trás e depois, com muita sorte conseguiam um lugar num avião para Lisboa. Para mim é simplesmente inimaginável o que aquelas pessoas sentiram.
Durante a viagem Joana fica cativada com o olhar firme e decidido de Carlos Jorge, um médico que viaja com a sua família. Mas só 27 anos depois é que esta troca de profundos olhares terá tradução para ambos.
Gostei deste livro pelo que aprendi com ele sobre a guerra colonial portuguesa. Quanto à história de amor achei-a bonita mas simples.
7/10
Lido a 24 de Junho de 2009